quarta-feira, 22 de setembro de 2021

 CERCA DE PORTIMÃO


Simples lugar de pescadores, nos meados do século XV, menos de cem anos depois Portimão assumia-se já como a 4ª maior povoação do litoral algarvio com 634 vizinhos

A 10 de Abril de 1476, D. Afonso V concedeu Vila Nova de Portimão a um seu vedor da Fazenda, D. Gonçalo Vaz de Castelo Branco, obrigando-o a fortificar a localidade com um castelo e muralhas.

 Ao que tudo indica, a área amuralhada era superior a 6 hectares e definia um polígono irregular (*) que acompanhava a margem do rio e englobava a parte mais alta da vila, onde se situava a Igreja Matriz, também ela mandada edificar por Gonçalo Castelo Branco. A quase totalidade das muralhas foi destruída ao longo dos tempos, restando pequenos troços, entre prédios e muros de propriedades.

Nos dias de hoje o principal troço remanescente localiza-se entre a Porta da Serra e o Postigo dos Fumeiros, conservando ainda parte do caminho de ronda da fortaleza. 

Um segundo troço, entre o Postigo da Igreja e a Porta de São João, mantém-se ainda parcialmente, bastante danificado e suprimido por construções posteriores


(*) A cerca de Portimão, de forma triangular,  tinha cerca de 1100m de perímetro, 4 portas torreadas e  3 postigos,  uma frente para o Rio Arade ou de Silves e duas outras para Norte e Poente.

Porta da Serra- Vértice Norte
Porta de São João - Vértice Sul
Postigo dos Fumeiros - Vértice Nascente


4 Portas 

Porta de S. João, Porta da Serra, Porta da Ribeira, Porta do Corpo da Guarda. 

3 Postigos

Postigo da Igreja ou de São Sebastião, Postigo dos Fumeiros e Postigo de Santa Isabel.


1 - Porta da Ribeira 


Rasga a muralha ao cimo da actual Rua Serpa Pinto e sobe em direcção à actual Rua Professor José Buísel, 
A cerca assentava, mais ou menos a meio, entre esta rua e a Rua do Forno (Forno dos Fumeiros)


6 - Postigo dos Fumeiros 


Entrada do lado Nascente da muralha sensivelmente onde hoje confluem as Ruas Professor Buísel e Rua do Forno (Forno dos Fumeiros, antiga designação)  em frente à Praceta F. Maurício, junto  à Ponte Velha.

Também funcionavam na cidade algumas pequenas fábricas/armazéns os chamados fumeiros de preparação de frutos secos (figo, amêndoa, alfarroba) acondicionados em seiras (cestas de palma, vulgo "empreita" (indústria doméstica de manufactura de trabalhos de entrançado em palma ou esparto), feitas por velhinhas à porta das suas casas para melhoria dos seus magros rendimentos, e que ocupavam também homens,  mulheres e crianças.
Os fumeiros eram, portanto, armazéns onde se procedia ao tratamento do figo, amêndoa e alfarroba para conservação e posterior exportação.
Ora, era nesta zona que se localizavam inúmeros armazéns deste tipo, daí o patronímico "postigo dos fumeiros" pequena abertura rasgado neste troço da cerca para permitir a passagem a pé de pessoas e mercadorias.

2 - Porta da Serra


No entroncamento da actual Rua da Fábrica com a Rua Machado Santos e Rua da Porta da Serra ficaria a PORTA da SERRA e como todas as outras portas defendida com dois  torreões  dando acesso ao caminho para a Serra de Monchique 
... e mais ou menos nas traseiras desta rua, Rua Machado Santos, corria a cerca em direcção à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição passando em frente ao adro onde se erguia o primitivo pelourinho de Portimão e, para facilitar o acesso à Igreja, foi aberto um postigo que permitia a passagem das pessoas








5 - Postigo da Igreja ou de São Sebastião


A muralha passaria entre as casas da actual Rua Diogo Tomé e Dr. Ernesto Cabrita


3 - Porta de São João


Porta de São João - rasgaria a Cerca no cruzamento da Rua Diogo Couto / Rua Direita, Rua da Porta de São João (Há quem opine que esta porta estaria no cruzamento da actual Rua Dr. Ernesto Cabrita com a Rua Direita na esquina do antigo edifício da Farmácia Dias com a Praça 1º de Dezembro) 
A foto abaixo pretende dar uma ideia mais provável da localização desta porta





4 - Porta da Guarda ou de Nossa Senhora da Graça


Nesta porta erguia-se o Baluarte de Santa Bárbara e  fica na actual Rua 5 de Outubro entre o edifício da Caixa Geral de Depósitos e o Correio


7 - Postigo de Santa Isabel


Postigo de Santa Isabel no entroncamento da Rua Serpa Pinto com a rua do mesmo nome.

Rua de Santa Isabel (vista de Poente para Nascente, ao fundo o Rio Arade) 
Em destaque casa brasonada com Porta Manuelina - Nº 106




Panos de Muralha postos a descoberto em 2015
 
Os muros tinham troços entre 40 a 50 metros de comprido em forma de dentes de  serra;  era sobretudo uma muralha defensiva com uma área de cerca de 6,5 Ha, constituída por pedras de características pobres, coladas com argamassa com lances de diferentes tipos de construção e  uma espessura à volta de 1,60 m e uma altura entre 5 e 6 metros com caminho de ronda com cerca de 1 metro de largura e portas protegidas por 2 torres


Pano de Muralha de Portimão. Rua Dr. Ernesto Cabrita (ao fundo a Igreja Matriz)

Muralha de Portimão na actual Rua Ernesto Cabrita (interior do edifício) 


Muralha medieval com parte do caminho de ronda. 
Obras de construção na Rua Dr. Ernesto Cabrita

Portimão ao virar do século XIX


Portimão, pano de muralha, 
Interior do Instituto Manuel Teixeira Gomes, ao lado ainda se pode visitar a cisterna
(Entrada pela Rua Dr. Estêvão de Vasconcelos)








Quando falamos em muralhas de Portimão empregamos 3 tempos verbais:
... a muralha passa (raramente) o Presente
... a muralha passava (mais frequentemente) o Imperfeito
... a muralha passaria (menos frequentemente) o Condicional

Isto mostra como é difícil precisar o traçado das muralhas pela destruição da cerca da vila sofrida ao longo dos tempos sobretudo depois dos terramotos do século XVIII:
- de 6 Março de 1719, 
- de 27 de Dezembro de 1722 
- e 1 de Novembro de 1755  
e ao mesmo tempo que a povoação se ia expandindo para fora da cerca.
Os materiais de construção da cerca remetiam-se ao tipo de rochas do local e que não eram lá muito nobres.
Calcário pobre com pedras sustentadas por barro e argamassa o que justifica em muitos casos a relativa  facilidade do derrube do muro que para pouco já servia de protecção e se tornava um obstáculo à expansão da povoação, ordenamento das ruas e circulação de pessoas, animais e mercadorias..







Era numa ceira como esta, de fabrico artesanal, que há mais de 500 anos se acondicionavam os frutos secos, nomeadamente figos, 



Gravura de Portimão -Rio Arade  na viragem do século XIX






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